segunda-feira, abril 26

O país da lei dirigida!


Este dias mesmo, estava eu no Posto de Saúde do município de Astorga e percebi que entre os cartazes do Ministério da Saúde havia, também, uns papéizinhos, espalhados pelo posto, que dizia: Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena de 6 meses a 2 anos ou multa.
Legal, não acha?! Num país onde o analfabetismo funcional é luxo, para quem entender metade do que está escrito. Isto porque, no Brasil, ainda há a mentalidade da "gloriosa figura do Estado". Assim, muitos "pesos mortos" no setor público acham que podem falar alto, besteiras, lhe desacatar por causa deste parágrafo no Código Penal. Presunção total!!! Fiquei me perguntando porque só havia a informação de que desacatar funcionário público é crime! Como se todo mundo fosse a uma repartição pública para insultar o funcionário, arbitrariamente! Então, senhor leitor, há um outro parágrafo no mesmo código Penal que diz: Art. 319 - Prevaricação, ou seja, o ato de retardar ou deixar de praticar, indevidamente ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal - Detenção de 3 meses a 1 ano.
Bom, então quer dizer que funcionário público que não exerce sua função enquanto tal também constitui crime! Mas isto não estava na parede do posto! Por que será, hein?
Então, Srs. Funcionários Públicos, é bom vocês "porem suas barbas de molho" e começarem a atender melhor o povo e não ficar "dormindo em berço esplêndido"!
Porque, num país como o nosso, o país do "sabe com quem tá falando?" só pode dar este tipo de "gentinha": o pandemônio da funcionalismo público: o comodismo!
Viu só leitor? Se um destes aí ficarem querendo "cantar de galo", não dê "colher de chá"! Eles não merecem, mesmo!
A gente se vê por aí...

quinta-feira, abril 22

Voltando à barbárie...


Agora comecemos a diversificar mais os nossos assuntos; desta vez, tentando ser um pouco mais técnicos, se assim se pode dizer. Queremos, na verdade, discutir conceitos, enunciar hipóteses, emular posições; enfim, que aqueles que lerão estas linhas e outras, participem.
A proposta, mais do justa, em nosso século, é uma questão da crise da racionalidade e, por este motivo, diria antropológico, social e cultural. Tudo isto pode parecer a mesma coisa, mas, são coisas distintas, entretanto, interconectadas. Não se pode, assim, analisá-las num contexto restritos, particularizadas, alheias umas as outras, porém, imbricadas, afins.
Desta maneira, quando nos referimos a estes problemas, queremos com isto, dizer que o problema do Homem é mais atual do que nunca; ou melhor, nunca deixou sua atualidade!
Neste post resolvemos ressaltar algumas coisas que vemos nos telejornais, revistas, jornais, web e outros sobre a preocupação do Homem com o seu hábitat, os meios de subsistência, o próprio desenvolvimento sustentável; o paradoxo do desenvolvimento versus o Homem. Esta situação é explicitada no barbarismo do Homem em relação à natureza e em relação a ele mesmo. Para lembrar as palavras de Marx, "a matéria é humanizada e o humano coisificada".
Andamos analisando fatos históricos e percebemos que, em toda a história houve um "q" de barbárie; diga-se de passagem para os [ignorantes de plantão] que barbárie não esteve e nunca estará relacionada, diretamente, com Idade Média. Esta ferocidade esta contida no Homem. Se não o fosse, como explicaria tais acontecimentos como as Guerras Mundiais, o Neocolonialismo, a Teoria da Eugenia, o Apartheid e mesmo os fatos que relacionados àqueles podem ser considerados corriqueiros. O próprio Nietzsche diz que a mansidão do Homem se dá pela inversão de valores e sua doutrinação fazendo com que viva arrebanhado: Na Genealogia da Moral compara como a fera aprisionada que se bate contra as barras da jaula; no Anticristo, diz que o Homem vive em manadas. São conceitos que precisam ser bem trabalhados pois são um tanto complexos e nós o faremos futuramente. A única coisa que se precisa entender num primeiro momento é que ele não compara o Homem a um animal, mas, este se torna pelo adestramento moral que recebe através da doutrinação.
Na verdade, se analisarmos bem, veremos que em primeira instância este adestramento vem da religião, considerada por Marx como superestrutura. Mas esta doutrinação pode ser qualquer outra coisa que ponha um contra outro: política, status quo, status socialis ou até mesmo o esporte. Os paradigmas vão se formando e estratificando a sociedade.
Há uma baixeza assaz grande no Homem que o compromete. Basta vermos um escrito de Nietzsche - Assim falou Zaratustra (1883-85):
"Zaratustra falou assim ao povo: 'eu vos anuncio o Super-homem'. 'O homem é superável. Que fizeste para o superar? Até agora todos os seres têm apresentado alguma coisa superior a si mesmos; e vós, quereis o refluxo deste grande fluxo, preferis tornar ao animal, em vez de superar o homem?' 'Que é o macaco [símio] para o homem? Uma zombaria ou uma dolorosa vergonha'. 'Pois é mesmo que deve ser o homem para o super-homem: uma irrisão ou uma dolorosa vergonha'. 'Percorrestes o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta muito do verme. Noutro tempo fostes macaco, e hoje o homem é ainda mais macaco do que todos os macacos.'" (Op. Cit., p. 25)
Vejamos. Zaratustra aí representa a superação de toda aquela proposta que vinha das tradições religiosas, que não deram conta de transformar o Homem num ser tal e qual. Assim, o profeta, ao contrário de Cristo ou Maomé, pensa em anunciar ao povo que este deve por si a própria superação: vulgarmente dizendo "virar gente"! Note-se que a tradução em português é um tanto falha "Super-homem". Em alemão, Nietzsche usa o termo "Übermensh"; über vem oben que quer dizer acima, portanto, um Homem que esteja acima desta natureza caduca. Por isto, quando diz que o macaco é uma vergonha para o Homem, o Homem hodierno também deve ser para aquele que alcançar sua elevação moral. Fazendo alusão ao evolucionismo de Darwin, Zaratustra questiona o seguinte: se o Homem conseguiu evoluir de um mísero verme para um antropóide, por que nele ainda estão o resquício de verme e antropóide?
Esta breve passagem dá margem para uma larga reflexão. Pare e reflita estas linhas e olhe: Nietzsche escreveu isto no final do século XIX! O que o Homem é hoje? Verme ou Super-homem? A gente se fala...


NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falou Zaratustra. São Paulo : Martin Claret, 2001.

Gravura: A criança presenciando o nascimento do Homem (Child watching the birth of man) de Salvador Dali.


domingo, abril 18

Educação é bom e todo mundo gosta! Certo?!


"Mamãe, eu não queria
Mamãe, eu não queria
Mamãe, eu não queria
Servir o exército...

Não quero bater continência (Trá-lá-lá-lá)
Nem pra sargento, cabo ou capitão (Trá-lá-lá-lá)
Nem quero ser sentinela, mamãe
Que nem cachorro vigiando o portão
Não!"

Quem já não curtiu esta música do Raul Seixas? Pelo menos os mais despojados já o fizeram!
Ontem, estava eu tranquilo, tomando minha cerveja no bar quando, de repente, encostou camburão e mais duas viaturas! Desceram os homens da lei, empunhando seus "berros" e, a primeira coisa que ele disse, referindo-se a nós, foi de V-A-G-A-B-U-N-D-O. Os policiais: um da minha cidade e os outros autoritários de Maringá!
Em primeiro lugar, se eles estão diariamente lidando com vagabundos, o o problema não é meu! Só, que, ser chamado disto sem que o "senhor policial" me conheça é algo, no mínimo, de uma pessoa perturbada! Ainda que houvesse algum vagabundo, educação cabe em qualquer lugar!
É como na iniciativa privada: há vezes que eu nem sei porque pedem experiência já alguns serviços são prestados por pessoas quem nem sabem fazer o "Ó" sentado na areia. Quem dera aquele que faz um concurso nível secundário. Bom, grau de instrução também não deve ser colocado em pauta! Então o que pode ser?
Olha aqui, governador Orlando Pessuti e o Ilmo. Sr. Cel. David Antonio Pancotti, comandante geral da PM/PR: vejam se há como colocar pessoas mais educadas para trabalhar na polícia porque vagabundo é quem não trabalha e só este mês paguei uma nota de impostos estaduais - COM O MEU TRABALHO!!! Então se todo mundo que a PM encontrar e parar for vagabundo, estaremos fritos! Aqui não tem vagabundo nenhum, não! Estão ouvindo?!
Expresso, aqui, minha indignação! Depois acontece igual o final da música do Raul que citei logo no começo: que este é o "é o único emprego pra quem não tem nenhuma vocação"!
Valeu!

sábado, abril 10

Quer dar uma espiadianha?


Ai, ai, ai, ai, ai!!! Ontem mesmo eu acabei de saber que o "Será-fim" investiu em câmeras de segurança na escola. Parece-me que, ao todo, são catorze. Legal!
Estou vendo que os paradigmas globalizadores acabaram de atracar no cais da repartição estatal.
Agora, não qual a finalidade, se é para coibir a ação delinquente de alunos baderneiros ou prever uma segurança maior no labor educacional!!!
O Big Brother pedagógico pode tornar-se emblemático! Diga-se de passagem que "O Grande Irmão" é um personagem fictício do romance de George Orwell, um grande ditador que vigia as pessoas ininterruptamente! Daí, o romance inspirar aquela porcaria exibida todos os anos pelo "Grande Irmão" do capitalismo selvagem.
Só que, pelo visto, isto cheira a Casa do Artistas... Ops! Casa dos Autistas! Sem querer, aqui, ser preconceituoso, mas digo autista porque esta patologia é uma disfunção global do desenvolvimento que altera e afeta a capacidade comunicativa do indivíduo, o estabelecimento de relacionamentos e a resposta ao ambiente, ou seja, é caracterizado pelo desligamento da realidade exterior e criação mental de um mundo autônomo.
Tudo a ver com o "Será-fim"! Por quê? Porque num ambiente educacional, onde a comunicação e o relacionamento são comprometidos e a base de decisões são praticamente arbitrárias, só podem ser aspectos de desligamento da realidade! Câmeras?!! Poupe-me!!! Bem, veja o lado bom (para os alunos, é claro): um item a mais a ser depredado! Como se isto coibisse atos libertinos. Nós vemos a todo instante nos telejornais, bandidos que cometem latrocínio e ainda faltam dar um tchauzinho para a câmera! Quanto mais uma baguncinha de praxe!
O negócio é rédea curta pra cavalo xucro! Sem isto, a idealização de educação fica somente no hiperurânio pedagógico. Não posso nem chamá-los de sofistas, pois, até isto, seria um grande sacrilégio!
Até a próxima...

sexta-feira, abril 2

O professor tem que começar a tomar cuidado com o rabo!!!


Alguns dias atrás, uma amiga professora que trabalha no "Será-fim" me contou uma que, como dizem os outros, quase caí das pernas.
Bom, o fato é que nos atributos do docente, a lógica é que haja a primazia da autoridade do mesmo dentro da sala, o que, por bom senso, faz com que o trabalho pedagógico flua bem. Pelo menos, esta seria a via natural. Pois bem, um "aluninho" baderneiro qualquer e tumultuador falou com todas as letras para que esta professora enfiasse o seu caderno no RABO em certa ocasião, para não dizer a palavra mesma que foi usada.
A professora, com sua honra ofendida, é claro, pois não é comum as pessoas por aí enfiarem as coisas no próprio rabo a não ser supositórios, salvo algumas exceções, foi até os "pedagogos" para que estes fizessem algo: a professora pediu que chamassem o pai do aluno baderneiro. O que os honoráveis pedagogos disseram? Que não o fariam, pois o pai do aluno era muito bravo e, por isso, podia lhe dar uma sova!!!
Que lindo!!! O professor não vale mais m... nenhuma!!! Quer dizer que para que a integridade do aluno seja preservada e, assim, seu caráter infrator perdure ad infinitum, é justo que o professor continue enfiando as coisas no rabo e ele, o aluno, jogue pó de mico dentro da sala e saia fresco e sereno.
Isto me faz lembrar das palavras de Marx no Manifesto do Partido Comunista. Dizia o pensador, a respeito dos chamados "socialistas utópicos", mais precisamente de uma obra de Pièrre-Joseph Proudhon intitulada A Filosofia da Miséria. Justamente por ser considerado utópico, Marx dizia que esta obra não tinha nada de Filosofia da Miséria, mas, antes de tudo, era a MISÉRIA DA FILOSOFIA.
Para vocês, pedagogos que adoram arrotar Marx, Gramsci, Vygotsky e quejandos, se escrevessem um livro intitulado A pedagogia da miséria, não faltariam professores que dissessem, na verdade, que esta pedagogia paternalista e falida é, na verdade, a MISÉRIA DA PEDAGOGIA, portanto, utópica e sem propósito.
Na verdade, gostaria de saber o que leva um profissional da educação escamotear atos de barbárie como os que acontessem em muitas escolas por aí? Será que amanhã, ele [o aluno] trabalhando numa firma ou corporação, não vai precisar seguir regras e mandará o encarregado "enfiar as coisas no rabo" quando bem lhe aprouver? Pelas barbas do profeta!!!
Está claro, meu querido professor que não existe nada mais niilista do que a pedagogia aplicada nestes termos. Esta é a visão de inclusão dos "intelectuais orgânicos" de final de semana!
Até a próxima!!!

sábado, janeiro 2

Clara Nunes: A Eterna Guerreira


“Se vocês querem saber quem eu sou
Eu sou a tal mineira
Filha de Angola, de Kêto e Nagô
Não sou de brincadeira

Canto pelos sete cantos

Não temo quebrantos, porque eu sou guerreira

Dentro do samba eu nasci,
me criei, me converti,
e ninguem vai tombar a minha bandeira(2x) ô,ô,ô

Bole com samba que eu caio, e balanço o balaio, no som dos tantãs.

Rebolo que deito e que rolo, e me embalo e me embolo nos balangandãs.

Bambeia de lá, que eu bambeio nesse bamboleio que eu sou bambambã.

Que o samba não tem cambalacho, vai de em cima em baixo, pra quem é seu fã.

E eu sambo pela noite inteira, até amanhã de manhã, sou a mineira guerreira, filha de Ogum com Iansã”.

(letra do samba Guerreira, gravado por Clara Nunes em 1978)


Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, nasceu em 12 de agosto de 1943, em Caetanópolis, na época um pequeno distrito chamado Cedro, pertencente ao município de Paraopeba, no interior do estado de Minas Gerais.
Foi a sétima filha do casal Manuel Ferreira de Araújo e Amélia Gonçalves Nunes. O pai de Clara, seu Mané Serrador, como era mais conhecido pelos amigos e vizinhos, trabalhava como marceneiro na fabrica de tecidos Cedro & Cachoeira. Seu Mané também era violeiro e ávido participante das Folias de Reis da região, infelizmente veio a falecer em 1944, quando Clara tinha somente um ano de idade.
Cinco anos depois faleceria sua mãe, sendo a pequena órfã criada pelos seus irmãos mais velhos Dindinha e José, mais conhecido como José Chilau.
Aos nove anos de idade Clara começa a acompanhar a irmã em suas aulas de catecismo na Igreja de Cedro, cantando no no coral. Segundo a própria Clara, nessa época no coral da pequena igreja, começava o amor pela música e a descoberta do prazer em cantar, tornando-se já nessa idade ouvinte de programas de rádio, onde brilhavam cantoras como Carmem Costa, Ângela Maria, Elizete Cardoso e Dalva de Oliveira, principais artistas da Radio Nacional, no Rio de Janeiro; a pequena Clara tornara-se fã das Cantoras do Rádio, e essas artistas sua principal influência musical.
Nessa idade apenas, surgia sua primeira oportunidade de mostrar seu precoce talento para o canto. Clara vence o primeiro Concurso de cantores mirins na rádio de Paraopeba, cantado "Recuerdos de Ypacaraí"; nesse concurso ganhou como prêmio um vestido azul.
Aos quatorze anos começa a trabalhar como tecelã na fabrica Cedro & Cachoeira. Nesse mesmo ano aconteceria um fato que iria marcar radicalmente a sua vida. O irmão, José Chilau, num acesso de fúria, assassina com uma facada um rapaz que andava se vangloriando de haver conseguido “algo a mais” de Clara, do que simples beijinhos e abraços.
José Chilau foi preso e Clara teve que ir embora de Cedro. Mudou-se para Belo Horizonte indo morar com outros dois irmãos, Vicentina e Joaquim. Empregou-se como operária numa fabrica e começou a estudar a noite. Por essa época Vicentina cantava num coral chamado Renascença; Clara logo começaria a acompanhar a irmã, tendo a chance de se apresentar em alguns programas de rádio com o nome artístico de Clara Francisca.
Em 1963, ainda trabalhando como operária muda seu nome artístico para Clara Nunes. Nesse mesmo ano participa do Concurso “A voz de ouro da ABC” (Rádio ABC), cantando “Serenata do Adeus” de Vinicius de Morais, sendo sagrada campeã, chegando a participar da etapa nacional do concurso realizada em São Paulo. Durante três anos Clara se apresentou na Rádio Independência de Belo Horizonte, sendo considerada por três vezes a melhor cantora de Minas Gerais. Trabalhava também como crooner em bares e clubes de Belo Horizonte.
Fez sua estréia na televisão, no programa de Hebe Camargo. Um ano depois surge a oportunidade de se tornar apresentadora; Clara passou a apresentar um programa musical na emissora mineira Itacolomi, o programa se chamava “Clara apresenta”, trazendo grandes figuras do cenário nacional como Altemar Dutra, Ângela Maria entre outros.
Em 1965 muda-se para o Rio de Janeiro, indo morar em Copacabana.
Nessa época tinha inicio no Brasil, sobretudo nas grandes capitais a superação da televisão pelo rádio. Assim, vários artistas que antes faziam um grande sucesso no rádio, como Chacrinha, José Messias, Francisco Petrônio, estreavam na tv. No Rio, Clara teve a oportunidade de cantar em vários desses programas televisivos, surgindo daí, nesse mesmo ano, a chance de gravar com outros artistas da gravadora Odeon, um LP de boleros, a música mais em voga nas rádios. Essa foi a primeira experiência de Clara num estúdio de gravação.
Depois desse trabalho a Odeon contrataria Clara para o seu primeiro trabalho como cantora em vinil, o LP “A voz adorável de Clara Nunes”. Nesse disco, o repertório dividiu-se em sambas e boleros. O disco foi um fracasso de vendas, sendo que a própria cantora em entrevista, alguns anos depois, diria que cantou como uma funcionaria da Odeon, sem a menor possibilidade de escolha do repertório e no arranjo das músicas.
Outra expressão musical que ganhava cada vez mais a atenção do grande público, inclusive internacionalmente, era o samba. Isso se devia ao fato de os morros, as favelas no Rio de Janeiro, tornarem-se tema não só do cinema nacional, do então chamado Cinema Novo, que influenciado pelo Neo-realismo Italiano, buscava mostrar a realidade social das populações marginalizadas, mas também da indústria fonográfica brasileira. Desse modo, um número crescente de universitários e intelectuais descobria nas favelas cariocas, o “berço do Samba”, local onde compositores como Cartola, Nelson Cachaça, já haviam alcançado certa notoriedade.
Clara seguiu a tendência dos habitantes do asfalto que sobem o morro, participando das rodas de samba. A convite de um amigo, do cantor e compositor Ataulfo Alves, passa a freqüentar esse meio.
Devido a essa nova influência grava em 1968, pela Odeon, o LP Você Passa e Eu Acho Graça, no qual o samba principal composto por Ataulfo Alves e Carlos Imperial, Você passa e eu acho graça, alcançaria o primeiro lugar nas rádios cariocas. Em 1969, gravaria Clara Nunes: A beleza que canta, LP que trazia um repertório bem variado.
Ainda nesse ano e nos três anos seguintes, Clara Nunes teve a oportunidade de participar de diversos festivais da canção como os festivais da TV Record, palco onde também surgiam artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes. Esses festivais aconteceram em plena ditadura militar, sendo que alguns tinham um tom contestador, através de composições que na maioria das vezes afrontavam o regime ditatorial de forma metafórica, como no samba “Pra que obedecer”, composição de Paulinho da Viola e Luis Sérgio Bilheri, interpretado por Clara no "I Festival da Canção Jovem de Três Rios", no qual ganhou o primeiro lugar.
Em 1970, viajou para Luanda, capital da Angola na África, para uma série de apresentações juntamente com outros artistas brasileiros. Foi nesse ano que Clara passa a se afirmar na interpretação do samba, graças ao amigo Ataulfo Alves. Nos anos 60, a imagem de Clara Nunes podia ser vista na capa de seus LPs ou nas paginas de revistas de artistas com um “look”, bem característico da época: cabelos alisados e pintados roupas no estilo Jovem Guarda.
Então o marido de Clara Aldeozon Alves, produtor musical da Odeon, lhe propôs uma mudança radical na carreira artística, que não se restringia apenas ao repertório, ou a forma de vestir-se, mas também na definitiva escolha de um caminho de acordo com a dimensão espiritual, que ela começava a vivenciar mais intensamente naquele período da sua vida.
Clara tornara-se no inicio dos anos 70 adepta da Umbanda e do Candomblé. Essa escolha foi fruto do interesse crescente da artista pelas religiões afro e pela influência de uma de suas irmãs que era espírita. Desse modo Aldeozon criou para Clara uma imagem mais ligada às raízes do povo brasileiro. A nova Clara Nunes tinha agora os cabelos soltos e encaracolados, vestindo o branco das rendas dos vestidos das baianas, transmitindo um ar brejeiro e bem brasileiro.
A mudança na escolha do repertorio de seus discos também foi significativa. Neles pode-se ouvir as mais variadas formas de samba: samba-enredo, samba de roda, samba-canção, marchas de Carnaval (dos mais diversos autores, como Cartola, Nelson Cavaquinho, Adoniran Barbosa, compositores da Portela, sua escola de samba do coração), ao lado de canções de domínio público (folclore) e religiosas (Candomblé).
Assim sequem-se os seguintes LPs: Ê baiana – de 1971,com o sucesso “Ê baiana”, principalmente nos bailes de Carnaval daquele ano; Clara Clarice Clara – de 1972; o disco teve como destaques as canções, "Morena do Mar" ,de Dorival Caymmi, " Tributo aos Orixás" de Mauro Duarte, Noca e Rubem Tavares e a faixa-título "Clara Clarice Clara", de Caetano Veloso e Capinam; em 1973, sai Clara Nunes.
Em 1974 lança o LP Alvorecer, com o sucesso estrondoso de “Conto de Areia”. Com esse samba é que Clara atingiria o sucesso e uma marca histórica na vendagem de discos, sendo a primeira cantora brasileira de samba a atingir o número de 800 mil cópias vendidas. Antes disso existia o estigma na indústria fonográfica brasileira de que cantoras, sobretudo de samba não eram sucesso de venda; investir grandes somas na produção e distribuição de discos de mulheres cantando samba era uma canoa furada!
O sucesso da cantora não se limitava ao Brasil; tem o inicio a sua carreira internacional , fazendo apresentações em Lisboa a convite de rádios portuguesas e também na Suécia, apresentando-se juntamente com a orquestra sinfônica da rádio nacional de Estocolmo.
Em 1975, casa-se com o compositor e poeta Paulo César Pinheiro, que segundo ela era o grande amor de sua vida. O casal era avesso a badalação do meio artístico, preferindo passar os períodos de folga, entre shows e gravações, num sitio afastado da cidade do Rio. Paulo compôs diversas canções para a esposa, presentes nos álbuns seguintes: Claridade – 1975 (com o sucesso “O mar serenou”), Canto das três raças – de 1976; As Forças da Natureza – de 1977 (incluindo a canção “A flor da pele”, primeira composição de Clara), e Guerreira – de 1978.
O ano de 1979 seria marcado por um triste acontecimento: Clara, grávida de quatro meses, perde o bêbe, devido a uma queda. Era o terceiro aborto espontâneo sofrido pela cantora e fatalmente aquele que a impediria definitivamente de ser mãe. Em decorrência desse incidente, Clara teve que submeter-se a uma histerectomia, ou seja, a retirada do útero. Clara teve fortes abalos emocionais, já que a maternidade era a grande obsessão de sua vida. Daí em diante resolveu direcionar todas a suas energias para a carreira artística.
Em 1980, Clara juntamente com Dorival Caymi, Djavan, Chico Buarque, João Bosco, Elba Ramalho e Martinho da Vila, fazem uma série de apresentações em Angola; seria o seu retorno ao continente africano. Na volta da viagem Chico Buarque lhe homenageia com uma canção “Morena de Angola”, que faria parte do novo LP de Clara, Brasil Mestiço.
A aproximação de Clara Nunes com Chico Buarque marcaria naquele momento uma nova postura da cantora com relação a vida política do pais. Clara mostrava-se engajada politicamente, e em entrevistas a revistas mostrava-se indignada com o regime militar. Naquele ano participou do disco de Chico Buarque, e passou a incluir em seus discos repertorio com canções com cunho mais político e social (gravou “Apesar de você”, composição do próprio Chico).
O engajamento de Clara causou furor em certos segmentos do governo militar, os quais já chamavam Clara de subversiva. A Odeon, tentando contornar a situação obriga a cantora, sob pena de quebra de contrato, a participar de uma coletânea de hinos militares, Clara gravaria o hino da Marinha.
A atitude de Clara Nunes e de certos artistas da MPB, serviam de voz ao clamor do povo brasileiro por uma abertura política significativa. Essa pressão fez com que o Regime Militar já passasse a falar de uma anistia ampla e irrestrita, que possibilitasse entre outras coisas o retorno dos asilados políticos aos Brasil.
A mobilização de amplos segmentos da sociedade descontentava os militares integrantes da chamada “linha dura”, contrários a qualquer forma de democratização popular. Assim o Regime Militar se dividia em dois segmentos, um favorável a redemocratização do pais e outro contrário a essa iniciativa. O resultado deste embate entre as duas correntes políticas marcaria o ano de 1980, com um fato marcante, o atentado terrorista na festividade de 1° de maio, dia do trabalhador no show do Riocentro, no Rio de Janeiro.
Os dois últimos anos de vida de Clara Nunes foram intensamente produtivos: em 1981 lançaria o LP Clara, com um sucesso nas rádios do pais, “Portela da Avenida”. Em 1982, a cantora se mostraria mais afastada do samba, aproximando-se da MPB, gravando em seu último disco, "Nação", canções da autoria de João Bosco e Aldir Blanc, “Nação” e “Cinto cruzado” de Guinga, entre outros. A critica seria implacável com a cantora, afirmando que ela estava se afastando de suas raízes no samba e enveredando por um gênero não tão popular. Nesse ano Clara ainda faria uma série de shows no Japão.
No inicio de 1983, a cantora decide se submeter a uma cirurgia para se livrar de algumas varizes que a incomodavam muito, principalmente na sua atuação no palco. Assim, Clara internou-se na manhã do dia cinco de março na Clinica São Vicente no Rio de Janeiro.
O inicio da cirurgia transcorreu normalmente, o médico já havia terminado a primeira parte, e estava acabando de suturar a incisão da perna esquerda da cantora, quando notou que o sangue de Clara estava muito escuro; isso indicava falta de oxigenação no sangue; logo a equipe médica percebeu que a paciente não apresentava mais batimentos cardíacos, Clara sofrera uma parada respiratória. Tentaram fazer uma massagem cardíaca, logo interrompida para tentar a reanimação da cantora através de eletro choques. A tentativa foi bem sucedida e para alivio geral da equipe médica os batimentos cardíacos foram restabelecidos.
Porém a cantora não reagia a estímulos, pois estava em coma profundo. Naquele mesmo dia a paciente foi submetida a uma tomografia, em um dos dois únicos Tomográfos Computadorizados existentes no Rio naquela época. O objetivo era constatar a gravidade do dano causado no cérebro de Clara devido a falta de oxigenação. Constatou-se que a área afetada no cérebro era muito extensa, causando um grande edema cerebral.
Na verdade Clara sofreu aquilo que a medicina chama anafilaxia, mais conhecido como choque anafilático, ou seja, Clara Nunes sofreu uma reação alérgica a alguma substancia da anestesia. A anafilaxia causou um estreitamento das vias aéreas, causando a parada cardíaca e a falta de oxigenação no cérebro.
A cantora permaneceu por 28 dias em “coma”. Segundo o jornalista Wagner Fernandes, biografo da cantora, autor de “Clara Nunes – a Guerreira da Utopia”, a artísta teve morte cerebral cinco dias depois de entrar em coma. Acontece que em 1983, a medicina brasileira só reconhecia o paciente em coma, como definitivamente morto, quando este apresentasse a falência de todos os órgãos, sobretudo o coração. Atualmente é considerado como em óbito aquele paciente em coma, cujo cérebro parou de funcionar.
A dois de abril, na madrugada do sábado de Aleluia, os órgãos vitais de Clara pararam de e ela foi oficialmente considerada morta. Ela foi velada na quadra da escola de samba da Portela e no cortejo até o cemitério São João Batista, foi acompanhado por cerca de 50 mil pessoas.

quarta-feira, dezembro 23

Ab libitum, ad saecula saeculorum...*


Estejais vós, caros pupilos, descansados do jugo que vos impele ao ócio do saber, do entender, do agir e quanto mais predicados vos seja lícito.
Ontem mesmo, minha reles pessoa recebeu uma ligação pedindo que eu comparecesse ao estabelecimento de ensino para assinar o livro sobre uma decisão tomada pelo "Primeiro Estado" de uma decisão que já fora tomada pelo corpo docente a respeito da reprovação de quatro alunos. Um dia após a decisão do conselho pela reprovação destes quatro, os mesmos docentes foram comunicados que aqueles, outrora reprovados, teriam sido aprovados, legalmente amparados pela LDB, a Lei de Diretrizes e Bases. Vamos à análise.
Primeiro, se esta lei regula a questão da educação, vejamos quais lacunas poderemos encontrar aí. O artigo 22, Seção I do Capítulo II sobre a Educação Básica diz que "A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores". Seria maravilhoso! Entretanto, com uma direção paternalista e assistencialista, qualquer escola, até o "Será-fim", está fadada a algazarra. Empurrar os alunos para as séries seguintes, não sei se lhes fornece meios , mesmo, progredir no trabalho e estudos posteriores: mal sabem conceitos básicos!
Segundo, não querendo fazer jus ao kantismo mas,já fazendo, os Imperativos Categóricos formulados por Kant dizem que o "valor moral" está no reto obedecer à norma, não de maneira arbitrária ou condicional, porém, pelo simples sentimento de obediência. É claro que o nosso amigo Kant era muito piegas. Entretanto, em se trantando de atitudes, como a que presenciei ontem, tudo é válido. A pedagoga me dissera que os alunos não poderiam ser reprovados porque "a LDB reza que os alunos que tenham atingido média 5.0 devem ser aprovados". E... eu revirei a LDB e não encontrei nada! Mas como não sou conformista, fui, pesquisei e encontrei numa webpage - www.conteudoescola.com.br - um comentário que diz o seguinte: "Poderão, alternativamente, ainda, ser conferidas notas às avaliações dos alunos, numa escala de zero a dez, sem fracionamento, resultando em média aritmética que equivalerá às menções, conforme segue: média igual ou maior que 8,0 (oito) – menção ÓTIMO; média igual ou maior que 5,0 (cinco) – menção SUFICIENTE; média menor que 5,0 (cinco) – menção INSUFICIENTE". Legal! Mas não houve médias igual ou maior que cinco, ou seja, INSUFICIENTE. No caso em que houve SUFICIÊNCIA, foi ultrapassado o percentual de faltas: a frequência dever ser no mínimo de 75% (Cf.http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/129/46/1/7/).
Outra coisa, se a média para se categorizar alguém como SUFICIENTE ou INSUFICIENTE é maior ou menor que 5.0, então por que a escola adota 6.0? Já sei! Porque, mesmo depois de o aluno alcançar uns 5.5 ou 5.9, por este argumento ele pode ser aprovado, ficando claro o porquê o "Primeiro Estado" ter passado por cima da decisão do conselho e, se o aluno, por ventura, conseguir notas maior que 6.0, fica claro que É LUCRO!
Forma indiscritível de burlar a "lei"! Tudo por causa de um 14.o salário em 2010 e para não entrar na Escola de Superação frente aos gráficos do IDEB (Índice de DESENVOLVIMENTO da Educação Básica). Hah, que hilário!
Portanto, a escola está para a Lei de Diretrizes e Bases, assim como, o aluno está para a Lei de Gérson, assim como, o professor está para a Lei de Murphy.
Estejais à vontade, pelos séculos dos séculos...*
No final das contas, é como o sambista Bezerra dizia: "malandro é malandro, mané é mané!"